quinta-feira, maio 27, 2004

OLD MOVIES, DIRTY THOUGHTS



Depois do jogo e de serenarmos um pouco, ela decidiu dar uma vista de olhos pelos meus DVDs para levar alguns emprestados. Quando se cruzou com o Dirty Dancing, não resistiu e disparou "Vamos ver?!". Eu acedi ao seu pedido sem hesitar.
Esta pérola dos anos 80 (1987) foi recentemente editada em DVD em Portugal, para a alegria daqueles que, como eu, veneram o filme.
Aninhadinhas, começámos divertidas a cantar as músicas e a reproduzir as falas sobejamente decoradas.

Oh, Sylvia!
Yes, Mickey!
How do you call your loverboy?
Come here, loverboy!
And if doesn´t answer?
Oh, loverboy...
And if he still doesn´t answer?
I simply say: baby, ohhh bay, my sweet baby, you're the one!


Acabámos com as lágrimas a escorrem pelo rosto, melancólicas, pensando na vida que temos, tivémos e que poderíamos ter.
Má ideia...

O MAGISTER



Quero prestar aqui a minha homenagem convicta ao melhor treinador que já conheci desde que gosto de futebol.
Arrogante, convencido, com algumas atitudes intempestivas e eventualmente questionáveis. Mas o homem percebe de bola. O homem é podre de bom. Tem uma família bonita. E vai-se embora. Porque neste país é mesmo assim, tudo o que aqui se planta de bom, exporta-se para os outros colherem os frutos.
Espero ansiosamente pelos seus comentários aos jogos do Euro, na TVI. Pode ser que assim comecemos a compreender o génio táctico de Mourinho. E espero que alguns treinadores aproveitem para tirar umas notas...

AI ESTAS SÃO AS ENTEADAS DO DRAGÃO



Passados 8 minutos desde o início da partida, lá chegou ela, ainda meio esbaforida, para juntas sofrermos por um clube que não é o nosso. "O Jorge Costa?", perguntou de imediato, sempre fiel às suas paixões.
A galinhagem seria bonita de se ver, se tivesse estado mais alguém naquela sala para o presenciar. A falta de uma presença masculina deu azo a uma guinchadeira semi-histérica, porém sempre sincronizada. Saltámos, gritámos e no fim, a caminho da bomba de gasolina para comprar mais cigarros, apitámos e acenámos à populaça.
Parabéns, FCP. E obrigada por hoje acolheres mais umas filhas tortas na tua alegria.

quarta-feira, maio 26, 2004

MAIS UM HIT DA TELEDRAMATURGIA



Amor Selvagem

Quando os corações dos puros amam
Cala a imensidão e o espaço
E a eternidade ergue seu véu

Todas coisas vivas se aquecem
Todos olhos se iluminam
Com a luz de um outro céu

Corações selvagens
Quando batem de paixão
Acordam toda a natureza
Fazem a vida renascer

Florestas que queimaram
Voltam a se vestir de verde e flor

E as fontes que secaram
Ressuscitam ribeirões

Corações selvagens
Quando ardem de paixão
Incendeiam a noite, o tempo
E cegam sóis

Estrelas são as lágrimas dos anjos
A chorar
Por não terem o corpo e a vida
E não saberem o que é amar ...

Marcus Viana


Estava já a preparar-me para dormir, quando me lembrei desta música. Não a ouço decentemente há quase 14 anos. É tão bonita.
Traz-me à memória tanta coisa.
Os meus 10, 11 anos.
O apertadinho apartamento na Cruz d'Areia, onde fui pequenina e feliz.
As noites de sexta e sábado passadas em frente à televisão (RTP2), a ver a novela mais bem conseguida de todos os tempos (ainda que censurada em Portugal).
A minha paixão desenfreada pelo protagonista, Marcos Winter.
A minha viagem à Holanda, que me obrigou a perder dois episódios preciosos.

Quando a telenovela repetiu há uns anos atrás, na RTP 1, artilhei-me com cassetes de vídeo e decidi gravar todos os episódios. O problema é que nunca estava em casa naquele maldito horário "dona de casa, uma hora antes de começar a pensar no jantar do marido e dos miúdos". Acabei por desistir. Não ganhava para as cassetes. Aliás, não ganhava, ponto final. Ainda gravei uns vinte e tantos episódios. Acabei por desgravá-los com um mundial ou europeu qualquer. Valores mais altos se vão levantando... Hoje arrependo-me. Teria agora pelo menos umas horinhas para matar saudades da Juma, do Jove, da Filó, do Seu Leôncio, da chalana, do "Véio" do Rio... Ainda mais porque, seja qual for a competição futebolística que me atropelou a telenovela, não há-de ser boa recordação...

E prometo pôr um travão a esta nostalgia novelística.

MOZ STRIKES AGAIN



America Is Not The World

America your head's too big, Because America, Your belly's too big
And I love you, I just wish you'd stay where you is

In America, The land of the free, they said, And of opportunity, In a just and a truthful way
But where the president, Is never black, female or gay, And until that day
You've got nothing to say to me, To help me believe

In America, It brought you the hamburger, Well America you know where, You can shove your hamburger
And don't you wonder, Why in Estonia they say, Hey you, Big fat pig
You fat pig, You fat pig

Steely Blue eyes with no love in them, Scan The World,
And a humourless smile, With no warmth within, Greets the world
And I, I have got nothing, To offer you
No-no-no-no-no
Just this heart deep and true, Which you say you don't need

See with your eyes, Touch with your hands, please, Hear through your ears, Know in your soul, please
For haven't you me with you now?
And I love you, I love you, I love you, And I love you, I love you, I love you

domingo, maio 23, 2004

DEPOIS DA COZINHA... A NOVELA



Praia Nua

Ah, meu sol, meu bem
minha vida escureceu
desde que você não quis mais saber de mim
Hoje eu só fiquei
com a imensidão do céu
de estrelas mil que se esforçam p'ra luzir meu vazio

Tudo que era flor
viu o cinza da manhã
e se entristeceu pelo fim do nosso amor
Mar azul também
suas ondas estancou
sem o seu calor o oceano é uma poça sem cor

Eu, praia linda e nua ventando de paixão
o dia amanhece na minha solidão
E posso ouvir você
por entre as nuvens la no céu:
Eu namoro a lua mas meu coração é seu

Jorge Vercilo


"Esta popularidade [da telenovela] conduziu ao sucesso além fronteiras com repercussões sociais semelhantes junto das classes mais desfavorecidas e de um público maioritariamente feminino, fruto de uma linguagem universal e de uma estrutura que assenta numa rede de intrigas polvilhada de uma série de dicotomias como o herói e o vilão , o rico e o pobre, o rural e o urbano, um enredo simples que, como afirma Francisco Rui Cádima em “O Fenómeno Televisivo”, “não vai mais longe que o real deformado no melodrama popular e no eterno retorno ao mesmo (…), gratificante, precisamente por ser diferente do complexo e caótico mundo real”.

Depois de ter escrito e lido o que este senhor tem a dizer sobre telenovelas, estou cada vez mais convencida de que ele nunca vai atingir a verdadeira dimensão deste género. É como se eu soubesse todos os segredos da confecção da coca-cola. Sendo eu uma criatura que detesta convictamente esta bebida, nunca poderei desfrutar verdadeiramente da sua dimensão. O mesmo vale para o senhor Francisco Rui Cádima: de que adianta conhecer os meandros da produção das telenovelas se não é capaz de se emocionar com elas?

Para quem gosta de revisistar velhos prazeres, Tropicaliente está novamente em exibição no GNT, diariamente às 20h.

PORQUE O LUGAR DA MULHER É NA COZINHA



Quando não se está bem, o melhor que se tem a fazer é procurar a terapia certa.
Há dias que ando em baixo de forma. Hoje à noite decidi exorcizar as minhas maleitas físicas e psicológicas na cozinha. Um pouco a contra gosto, mas como diria alguém que eu conheço, "temos que contrariar".
Neste momento jaz e assa um pobre frango no forno da minha cozinha. O desgraçado não tem culpa, eu sei. Espero que o seu sacrifício resulte numa significativa melhoria da minha disposição.
Aos que jantam neste momento, bon apetit.

terça-feira, maio 18, 2004

ONE PENNY FOR YOUR THOUGHTS, MR SCOLARI



Faltam poucas horas para o grande veredicto do homem do momento. Tenho que confessar que gosto dele. Agrada-me a sua atitude. O homem que acabou com as panelinhas na selecção. Mas se amanhã ele me prega a partida de convocar o Baía (o que não me admiraria muito), vai-se o respeito todo pelo cano abaixo.
Enquanto sai e não sai a convocatória deixo-vos com um misto do que eu queria fosse e do que acho que vai ser:

1.Ricardo
2.Quim
3.Moreira
4.Rui Jorge
5.Nuno Valente
6.Ricardo Carvalho
7.Jorge Andrade
8.Fernando Couto
9.Beto
10.Paulo Ferreira
11.Miguel
12.Tiago
13.Costinha
14.Maniche
15.Simão
16.Figo
17.Deco
18.Rui Costa
19.Boa Morte
20.Cristiano Ronaldo
21.Hélder Postiga
22.Nuno Gomes
23.Pauleta

Aceitam-se apostas.


domingo, maio 16, 2004

ÉS A NOSSA FÉ



Não sei muito bem o que dizer. Só sei que me está a saber muito bem.
Valeu pela cara do Mourinho. Valeu pelo momento alto do Simão a festejar o golo, a bater com a mão no peito e a gritar para o banco do Porto "Eu sou fo-di-do!". Valeu pelos famosos 6 milhões de benfiquistas. E valeu pelas dedicatórias.
Não me apetece saltar nem tão pouco acompanhar as businas que já me chegam aos ouvidos. Vou fazendo a minha festinha cá dentro. E à minha festa o 29 não falta.

sexta-feira, maio 14, 2004

A IDADE DA INOCÊNCIA



Encontrei o meu diário da primária. Por manifesta ternura, ou por pura falta de vergonha na cara, decidi partilhar algumas linhas com aqueles (poucos e bons) que assiduamente visitam este espaço onde liberto a minha esquizofrenia contida:

(Infelizmente, esqueci-me de pôr data...)

Querido Diário:
Eu gosto do Francisco e o Francisco gosta de mim.
Mas, a Inês e a Isabel gostam dele.
Elas gostam por amor e eu também!
Eu também gosto de um cantor adulto.
É um borrachão.
Chama-se José Alberto Reis.


Dava algumas horas da minha vida para não ter escrito esta última linha. Vejam só, o Júlio Iglésias português... Uma brasa...
Pelo menos orgulho-me de dizer que nunca gostei dos New Kids on The Block.

BANHO DE VÉNUS



Há poucos momentos em que me sinta tão feminina como no banho.
Seja qual for o mal-estar que me aflija, cansaço, tristeza, apatia, neura, o banho é sempre um santo remédio.
Não há nada como estar debaixo de água corrente, bem quente, dançando ao som de uma música apetecível, melancólica ou mexida, dependendo do estado de espírito.

Eu ninguém
Eu ninguém comigo só
Posso ser
Travesti de quem quiser
...


Ainda hoje perdi (ou talvez tenha ganho) uma horinha a dançar no duche. Naquele espaço de tempo fui verdadeiramente eu. Mais do que sou aqui. Por mais que não queira, as palavras que aqui escrevo estão sempre subordinadas aos olhos de quem as vai ler. Ali não. É um espaço em que me reconcilio comigo mesma. Em que reaprendo a gostar de mim. Pode parecer estúpido, mas adoro olhar para as minhas mãos enquanto tomo banho. Ficam tão limpas, quase translúcidas. Como eu.
E tem graça, mas não me lembro de alguma vez ter chorado no duche. Acho que o meu choro tem sempre algum masoquismo inerente que me faz querer sentir as lágrimas a escorrer pelo rosto. E isso debaixo de água torna-se difícil...

O meu pai diz que "não é banho, é rega". E tem razão. Brota-me sempre um bem-estar, um consolo apaziguante, quando me enrolo na toalha e me deixo ficar inerte a curtir os últimos acordes do CD.

quarta-feira, maio 12, 2004

GUERRILLA GIRLS
SINCE 1985 REINVENTING THE "F" WORD: FEMINISM




"We're a bunch of anonymous females who take the names of dead women artists as pseudonyms and appear in public wearing gorilla masks. In 19 years we have produced over 100 posters, stickers, books, printed projects, and actions that expose sexism and racism in politics, the art world, film and the culture at large. We use humor to convey information, provoke discussion, and show that feminists can be funny. We wear gorilla masks to focus on the issues rather than our personalities. Dubbing ourselves the conscience of culture, we declare ourselves feminist counterparts to the mostly male tradition of anonymous do-gooders like Robin Hood, Batman, and the Lone Ranger. Our work has been passed around the world by kindred spirits who we are proud to have as supporters. The mystery surrounding our identities has attracted attention. We could be anyone; we are everywhere."

in http://www.guerrillagirls.com/

Para ser muito honesta, nunca fui muito adepta do movimento feminista. Reconheço a sua importância, mas acho que, hoje em dia, manifestarmo-nos pelo nosso género não é mais do que admitirmos que o mundo é dos homens. Talvez pense assim por nunca ter vivido em nenhum ambiente de desigualdade. Mas acho que enquanto houver um Dia Mundial da Mulher não se poderá esperar igualdade de direitos.

Ainda assim, acho esta inciativa fantástica.
É espirituosa. Não tem aquela aura extremista que associo automaticamente a qualquer espécie de movimento feminista.
Tem humor. E não o ar carrancudo de mulheres mal amadas que me vêm à cabeça quando ouço falar desta ou daquela manifestação.
É sensual. Devem ser mulheres lindas, as que habitam aquelas máscaras de gorilas. E não aquelas sem-saboronas com gravata e um par de calças...

terça-feira, maio 11, 2004

LISBELA E O PRISIONEIRO III



- Esse beijo é nosso casamento...
- Não, não é não. Esse beijo foi nossa despedida.
- E é não! E a senhora não sabe que todo o filme de amor se acaba em beijo?
- Sei. Mas já acendeu a luz do cinema. E agora vai começar a minha vida.


Excerto do filme "Lisbela e o Prisioneiro" de Guel Arraes

LISBELA E O PRISIONEIRO II



VOCÊ NÃO ME ENSINOU A TE ESQUECER

Não vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços
É verdade, eu não minto

E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde
Nunca mais perdê-la

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar

Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

De Caetano Veloso
Para a banda sonora do filme "Lisbela e o Prisioneiro"

LISBELA E O PRISIONEIRO I



Leléu é um mulherengo que ganha a vida, zanzando de terra em terra, a vender remédios para a impotência e a fugir dos maridos traídos. O mocinho. Lisbela é romântica. Passa os dias a sonhar com uma vida igual à das séries americanas a que assiste todos os dias religiosamente no cinema da pequena aldeia nordestina. A mocinha.
É óbvio que Lisbela vai encontrar em Leléu o seu herói de cinema, e que este vai deixar de gostar de todas as mulheres para passar a amar apenas uma: Lisbela. Mas também é lógico que alguém terá que atrapalhar este amor: Frederico Evandro, um matador profissional que Leléu transformou em corno. O bandido.

A história é simples. Batida. Mas também não pretende ir além disso. É de uma humildade enternecedora. Uma comédia romântica que nos desenha um sorriso no rosto e nos aconchega o peito. Afinal, todas as mulheres têm uma Lisbela dentro de si. Ou, pelo menos, tiveram em tempos.
Recomendo vivamente.

segunda-feira, maio 10, 2004

TÃO BONITOS QUE DÃO RAIVA


Lou&Andy

LITTLE THINGS

There's so many things that we miss in our everyday lives
We're so busy hustling, bustling chasing far away dreams
We forget the little things
Like blue skies, green eyes and our babies growing
Like rainbows, fresh snow and the smell of summer
We forget to live

Give us eyes like children so we live each day as others
We're so sure we know so much that we forget to listen
Then we wander freckle faced
Like cheep thrills bad spill and constant consumption
Like TV, CDs and cars that speak our names
We forget to live

There's so many things that we miss in our everyday lives
We're so busy hustling, bustling chasing far away dreams
We forget the little things
Like blue skies, green eyes and our babies growing
Like rainbows, fresh snow and the smell of summer
We forget to live

SÓ PARA TI



Obrigada por seres quem és.
Obrigada por me aturares há três anos.
Por insistires em resgatar o Nós em todo este Eu que te imponho.
Por aceitares a minha ausência com a serenidade de quem tem a certeza de que eu volto. Sempre. Mais cedo ou mais tarde.
Por te deixares arrastar pelos meus carrosseis de humor, sem pedir para descer.
Por confiares em mim, quando nem eu própria confio.
Por acreditares em nós.
Por tudo e por muito mais.

sábado, maio 08, 2004

É QUE NEM DÁ PARA DISFARÇAR



Não há sinais de melhoras.
Estou com uma angústia, uma raiva encerrada no peito que me deixa fora de mim. E não se trata de uma atitude egoísta. Eu sei muito bem, infelizmente, que há problemas bastantes mais graves que os meus. Aliás, isto não é um problema. É feitio. E um feitio insuportável.

É o facto de ter noção disto tudo que me deixa ainda mais frustrada e revoltada comigo. Porque é que eu sabendo que o que eu sinto são feijões ao pé de reais tristezas, não consigo mudar de atitude?
Porque sou uma estúpida, egocêntrica, melodramática e mal-resolvida.
Pelo menos tenho consciência disso. Já é um bom princípio.

Eu hoje, definitivamente, estou com elas calçadas.

PRECISA-SE DE MIMO OU DE UMA BOA BOFETADA



Mas uma birra Daquelas...!

LIXO PSICOLÓGICO



A Reciclagem é um princípio que me agrada.
Do ponto de vista ecológico é um bom princípio. Embora reconheça que podia ter uma atitude mais devota à causa.
Agrada-me sobretudo a esperança de se poder aplicar este conceito ao indivíduo. Ao seu espírito.
Hoje é um daqueles dias em que me faria muito bem ser reciclada. Pegar em determinadas emoções, gastas, sujas, cansadas e reciclá-las.

Gastamos demasiadas energias a criar do zero novas disposições. Todos os dias uma diferente. Umas melhores, outras piores. Mas sempre diferentes.
Gostava de recriar algumas alegrias que já vivi. De pegar em alguns sentimentos como ciúme, indiferença ou desespero e moê-los, prensá-los e enformá-los em pequenas garrafinhas de esperança, generosidade e fé.
Há determinadas formas de estar na vida que não se recuperam. Não se renovam.
Mas também não percebo muito bem porquê.
Tenho saudades do tempo em que não era tão neurótica. Tão fútil. Tão egoísta.
Ainda assim, parece-me que hoje recuperei um velho estado de espírito.
Estou com uma birra...

quinta-feira, maio 06, 2004

"IS THE SUN COMING UP TODAY?"


www.explodingdog.com

ROSA CARNE II
CARROSSEL DOS ESQUISITOS




Sou mais um no Carrossel
Dos Esquisitos
Gente feia a girar
Não é bonito?
Juntos vamos celebrar
Esta nossa palidez
Que não dá p'ra disfarçar

Como abutres no céu
São quase lindos
Dois feiosos a rodar
Gritando e rindo
São aberrações no ar
Oh meu querido
Fecha os olhos p'ra me beijar
Que o mundo vai-se acabar

Menos p'ra ti e p'ra mim
Enquanto eu não te olhar
De tão perto assim
P'ra não me assustar

Se uma bomba nuclear
Tem a sua beleza
Gente feia tem também
Nem mesmo mata ninguém
Que não mereça sim
Morrer por ser ruim
Por fazer sofrer
Quem me quer assim

Sobramos só nós dois
Ninguém p'ra comparar
O nosos bolo de arroz
Com champagne e caviar

John Ulhoa


Não é simplesmente deliciosa?

quarta-feira, maio 05, 2004

PROCURA-SE EMPREGO.



"Era uma vez um professor muito mau que não lançava notas.
Era uma vez uma menina que há muitos meses esperava que ele as lançasse. Mas não era uma nota qualquer. Era A nota.
Um belo dia, ele lançou-a."

FIM

E agora?

terça-feira, maio 04, 2004

VIVER ATRÁS DA CASCA TAMBÉM CANSA (MIX)



Competência para amar

Vieste comigo
nesse jeito pós-moderno
de não querer saber nada
de não fazer perguntas
essa pose cansada
tão despida de emoção
de quem já viu tudo
e tudo é uma imensa
repetição

não fosse a minha competência para amar
e nunca teriamos acontecido
num mundo de competências
e técnicas de ponta
a dádiva da fala
quase já não conta

depois quase ias embora
desse modo
evanescente
não soubesse eu ver-te
tão transparente
e teria sido apenas
o encontro acidental
uma simples vertigem
dum desporto radical

não fosse a minha competência para amar
e nunca teriamos acontecido
num mundo de competências
e técnicas de ponta
a dádiva da fala
quase já não conta

Carlos Tê



Ouço esta música e imagino alguém a cantar ameaçadoramente para Um Outro Alguém Muito Especial. Em tom de acusação. Com um dedo apontado à cara. A criatura, corada até à alma, espremida contra a parede, rende-se às palavras que lhe são disparadas.
Não discute. Não tem defesa. Mas também não tem culpa.
No fundo, é vítima da sua maneira de ser.
Nunca arrisca. Não confia. Vive atrás da casca.
E não percebe que a defesa é o seu pior ataque.



(A Persistência da Memória, Salvador Dali)

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Vinicius de Moraes


Este era para mim, até há bem pouco tempo, o poema mais romântico que alguma vez lera. Tinha ideia inclusivamente, quando estava de casamento marcado, de fazer dele os votos que lesse nesse dia.
Hoje reli-o e apercebo-me de que possui uma dimensão que vai muito além do significado que eu primeiramente lhe atribuí.
Este comprometimento não se resume à pessoa amada, ao namorado, ao parceiro, ao marido, ao amante.

É um comprometimento com a vida. Com tudo aquilo que nos apaixona. Com todos aqueles que nos tornam os dias mais felizes.

É uma intimação para que vivamos todos os momentos intensamente. Para que nos agarremos às pessoas e aos afectos, como se não houvesse Amanhã.

Sentir no Presente um gostinho a Para Sempre.

Não sei se tudo isto coincide minimamente com a intenção de Vinicius. Muito provavelmente não. Pouco me importa. A Liberdade Poética vale para quem escreve, tanto como para quem lê.

domingo, maio 02, 2004